A sustentabilidade está em alta e empresas que investem nessa agenda, além de ser o certo a se fazer, têm também os melhores resultados e, cada vez mais, a preferência dos consumidores e dos colaboradores e talentos em suas escolhas e engajamento profissional.
O significado de ESG vem do inglês e quer dizer “Environmental, Social and Governance“, ou seja, “ambiental, social e governança” traduzido para o português.
O termo ESG se refere a um conjunto de práticas ambientais, sociais e de governança que, quando integradas e enraizadas da estratégia à operação das organizações, atuam nas necessidades futuras, riscos e oportunidades para as organizações, meio ambiente e sociedade visando a geração de valor compartilhado e orientado para a prosperidade.
Em resumo, a agenda ESG promove nas organizações uma maior atuação em práticas mais responsáveis e sustentáveis hoje para se manterem competitivas e prósperas no amanhã. Dessa forma, essa agenda tem recebido uma atenção especial no mundo corporativo por indicar negócios sólidos e que levam em conta os critérios de sustentabilidade.
Apontado como uma das principais tendências para 2021, a sigla ESG faz também referência à avaliação do impacto das organizações além da dimensão econômica, mas também nas dimensões social e ambiental. A análise da agenda ESG é capaz de determinar como a organização se posiciona em relação ao planeta e a sociedade em que atua. Afinal, uma operação deve ser responsável e sustentável, e isto deixou de ser uma opção há muito tempo. As práticas, tradicionalmente associadas à sustentabilidade, representam uma mudança de paradigma para as empresas e suas relações com investidores, já que passou a ser considerada como parte da estratégia financeira das empresas.
A agenda ESG surgiu das agendas da sustentabilidade, da Responsabilidade Social Corporativa e que tiveram início ainda em 1948 com a Declaração Universal dos Direitos Humanos. O Modelo de Desenvolvimento Econômico Sustentável disseminado pelo Relatório Brundtland em 1987 também apoiou no entendimento da responsabilização das atividades industriais nos desastres e impactos ambientais e na falha na garantia de acesso aos direitos humanos básicos para a geração atual e futura. Mais recentemente, em 2015, a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável liderada pela ONU, bem como os pactos, acordos, padrões e diretrizes alinhadas ou desdobradas dessa agenda, impulsionaram ainda mais fortemente os avanços desse modelo econômico sustentável nos últimos anos. Essa agenda se transformou na “Agenda ESG” trazendo uma visão mais integrada dos aspectos econômicos, ambientais, sociais, éticos e de transparência para a prosperidade das organizações, meio ambiente sociedade.
As consequências da crise causada pela COVID-19 evidenciaram a integração desses aspectos, dos impactos de uma crise sanitária no agravamento de problemas sociais e impactos econômicos relevantes para as empresas e países. A crise demonstrou ainda mais a importância das questões sociais na interdependência entre os países, indivíduos e empresas.
Entretanto, é legítimo que essa agenda ganhou ainda mais força nas empresas, com a preocupação declarada e ações tomadas pelo mercado financeiro e de capitais em relação ao risco de impactos negativos devido ao não comprometimento das empresas com questões ambientais, sociais e de governança.
Estudos comprovam que as ações de empresas sustentáveis tendem a superar significativamente os resultados das empresas com perfil semelhante de baixa sustentabilidade.
E esse comportamento também permaneceu durante a pandemia da Covid-19:
Dentre as declarações do mercado financeiro sobre a importância dessa agenda, uma das mais relevantes foi a da BlackRock, maior fundo de investimentos do mundo. O CEO da instituição, Larry Fink, tem destacado que empresas que não contribuem positivamente para a sociedade deixarão de fazer sentido.
Larry Fink’s, Executivo-Chefe da BlackRock
“Nossa convicção de investimento é que portfólios integrados à sustentabilidade e ao clima podem proporcionar melhores retornos ajustados ao risco aos investidores”.
“Acreditamos que o investimento sustentável é a base mais forte para as carteiras de clientes daqui para frente”.
• Corte de empresas que derivam um quarto ou mais de suas receitas de carvão térmico de suas carteiras ativamente gerenciadas;
• Aumento de seus ativos sustentáveis 10 vezes mais, com projeção de US$ 90 bilhões para US$ 1 bilhão em uma década;
• Adesão à iniciativa Climate Action 100+: um grupo de 370 proprietários e gestores de ativos que defendem propostas de acionistas ecologicamente corretos e pressiona as empresas a alinharem seus negócios com o acordo climático de Paris.
Essa declaração se conecta com a tendência de as organizações privadas desempenharem um papel cada vez mais relevante e responsável para os problemas econômicos, sociais e ambientais dos países e do mundo. É uma expectativa crescente dos diferentes Stakeholders que as organizações e suas respectivas lideranças contribuam mais para essas questões. Afinal, dos 200 maiores PIBs do mundo, 153 são de empresas, o que pode representar um potencial extremamente construtivo. Ao investir em ações de sustentabilidade, as organizações contribuem para a sociedade, mercado, governo e até terceiro setor.
Dentro do conjunto de práticas importantes do ESG estão às três principais, que se referem à sigla:
E – Environmental (ambiental): avalia o uso dos recursos naturais, energia e descarte de forma sustentável e integrada aos processos produtivos;
S – Social: reafirma política de direitos humanos e redefine políticas de condições de trabalho, diversidade, saúde e segurança, desenvolvimento e promoção dos colaboradores. Integra políticas junto aos fornecedores e desenvolve as comunidades locais.
G – Governance (governança): redefine a composição e independência do conselho de administração, a gestão de riscos, os mecanismos de ética, transparência, anticorrupção e diversidade. Direciona a integração das práticas ESG da estratégia à operação para a geração do valor sustentável e compartilhado para a organização, meio ambiente e sociedade.
Essas 3 esferas estão detalhadas abaixo:
O indicador “E” analisa como a empresa atua na prática em relação aos problemas ambientais e de qualidade de negócio. Um exemplo é a forma como as emissões de CO2 diminuíram durante a pandemia e em como isso impactou na luta pela sustentabilidade no mundo. Por isso, esse olhar se voltou para dentro das empresas e a exigência de práticas que pudessem contribuir para a redução da emissão deste gás no ar.
Outro exemplo de como as empresas podem aplicar essas práticas na esfera ambiental é a adoção de áreas de florestas para a conservação, plantio de árvores nativas para compensar as emissões feitas. Além disso, esse indicador pode contemplar outras ações a serem implantadas no negócio como:
Gerenciamento dos resíduos sólidos e líquidos: uma boa gestão destes tipos de resíduos impacta diretamente no meio ambiente, prevenindo a poluição do solo, águas e até mesmo do ar.
Redução do Consumo de Recursos Naturais: através de programas ambientais e otimização de processos de produção, a organização consegue reduzir o consumo de recursos naturais.
Alterações nas embalagens dos produtos: fazer uma reestruturação nas embalagens dos produtos é essencial, principalmente com tantas opções recicláveis e compostáveis disponíveis no mercado. Muitas vezes essas embalagens são descartadas de qualquer maneira pelo consumidor, por isso, a empresa precisa se preocupar com a forma com que seus produtos são enviados.
Leia também: Como o mapeamento de processos pode auxiliar as médias empresas na estruturação para o crescimento
Os indicadores sociais também são muito importantes entre as práticas de ESG. O valor que a empresa dá a área de direitos humanos, que abrange desde ações de saúde e segurança dos funcionários, bem como a preocupação com os clientes e a comunidades são pontos fundamentais e que são levados em consideração.
Diversidade e inclusão social também são temas relevantes dentro dessa esfera. Dar oportunidade e valor a uma parte relevante da sociedade e também às minorias dentro do ambiente de trabalho, preocupar-se com a saúde física e mental dos colaboradores, oferecer treinamento, desenvolvimento e profissionalização das equipes são ações que podem ser aplicadas dentro da prática “social” do ESG. Como impacto positivo dessas ações para a empresa destaca-se o aumento de produtividade, engajamento e maior retenção de colaboradores, além de maior atratividade de talentos e inovação para a organização. As estatísticas abaixo reforçam esse impacto positivo das práticas ESG na força de trabalho:
Quando se fala em comunidade, desenvolver e apoiar projetos que fomentam a melhoria da educação, segurança, saúde, bem como da situação econômica dessas comunidades, contribuirá para um maior engajamento com a organização, potencial aumento da força de trabalho, fornecedores e consumidores, bem como redução de conflitos e maior impacto positivo à sociedade.
Segundo estudo publicado pela HBR em 2017, estima-se que os atrasos associados a conflitos sociais em grandes operações de mineração podem chegar a U$ 20 milhões por semana. De acordo com os cálculos da empresa Energy Transfer Partners, os danos dos conflitos com as comunidades indígenas em Dakota, Estados Unidos, somam mais de U$ 800 milhões. O motivo dos conflitos foi um confronto durante o protesto de ativistas e indígenas contra o oleoduto da região.
A política empresarial da organização também faz parte das práticas do ESG, um dos pontos da governança. Neste quesito, a elaboração de um sistema de compliance na empresa é um exemplo das práticas da governança aplicadas ao negócio. Os investidores têm recebido essa estratégia como fundamental, pois mostra uma preocupação do negócio com a saúde fiscal e financeira da organização, além das práticas contra a corrupção e subornos.
A gestão dos riscos corporativos da organização incluindo aspectos operacionais, econômicos, sociais e ambientais é outro pilar importante da governança corporativa.
Além disso, outras práticas que podem ser implantadas são os investimentos em treinamento de lideranças, adoção de um conselho de administração com integrantes independentes e com competências e diversidade necessárias à prosperidade do negócio, bem como práticas internas e com o mercado que reforçam os princípios de transparência e ética, são mais algumas estratégias que abrangem a esfera governança e que são relevantes para o ESG.
A pesquisa da Credit Suisse publicada em 2020 na Forbes evidencia que empresas com uma ou mais mulheres nos conselhos tem melhores níveis de inovação e resultados financeiros que empresas de perfil semelhantes composta por somente homens no conselho.
Já sabemos que o ESG está totalmente vinculado à preocupação de empresas e investidores em atuar em negócios que sejam mais sustentáveis e impactem a longo prazo.
Muitos dos grandes investidores já não injetam capital em empresas que não estejam preocupadas com as práticas do ESG.
Por outro lado, alternativas de investimentos sustentáveis estão em crescente demanda no mercado. Um levantamento da área de tendências do Google mostrou que o interesse pelo conceito chegou ao seu nível mais alto em cinco anos. Globalmente, já se alcançou USD 30 trilhões em investimento sustentável – um aumento de 68% desde 2014 e dez vezes mais desde 2004. (Fonte: Global Sustainable Investment Review 2018, Global Sustainable Investment Alliance, 2018, gsi-alliance.org).
Também conhecidos como fundos verdes, o conceito aporta recursos de vários investidores em investimentos sustentáveis. O objetivo costuma ser o de investir em ações de empresas com base nos critérios do ESG que já comentamos.
Nos últimos anos, pode-se perceber que um investimento sustentável já não segue mais aquela premissa de que não teria o retorno desejado em lucro. Isso mudou totalmente. Os fundos ESG têm apresentado boas possibilidades de retorno, inclusive. Este tipo de investimento tem ganhado destaque pois as empresas que seguem as práticas conseguem resultados financeiros bem mais interessantes.
Por ser uma renda variável, não há como garantir o desempenho, no entanto, a evolução dos rendimentos tem se mostrado grande. Desta forma, a sustentabilidade pode ser um grande negócio de investimento, com ótimo potencial de lucro.
Assim como qualquer grande empresa precisa se preocupar em atender os requisitos do ESG para continuar crescendo e recebendo investimentos, com uma média empresa não é diferente. Além de impactar positivamente para a marca, perante os consumidores e potenciais colaboradores e talentos, estas práticas também trazem ganhos indiretos para a empresa, pois investidores, bancos e até a sociedade passam a ter sua atenção voltada para o empreendimento.
Aliás, é fato que muitas instituições estão começando a se reestruturarem não porque querem, mas porque estão perdendo fundo de investimentos. A tendência é que o mercado financeiro no Brasil se modifique para atender a pauta do ESG. Mesmo que não causem tanto impacto quanto as grandes empresas e indústrias, as médias empresas fazem uma grande diferença, pois geram a renda de 70% dos brasileiros. Por isso, rever a estratégia das médias empresas para aplicar essas práticas é essencial.
Além disso, a nova geração de consumidores, está obrigando os mercados a se comprometerem e oferecerem soluções para um modelo de produtos sustentáveis. E por isso, as médias empresas precisam mostrar o mínimo de preocupação com a sociedade e o meio ambiente ao mercado.
Os desafios da implementação do ESG permeiam a avaliação do propósito da organização, riscos, direcionamentos dos padrões de sustentabilidade e de governança corporativa, requisitos de certificação, práticas atuais de ESG e análise de percepções de Stakeholders, para a definição dos temas materiais da empresa. Uma vez definidos, métricas, metas e iniciativas estratégias que endereçam a ambição estratégica ESG deverão ser definidas.
Alinhar essas metas e iniciativas do conselho à operação, conectando essas às práticas e comportamentos esperados pela sua organização e também ao modelo de relacionamento com os diferentes stakeholders são essenciais para entregar o valor esperado e garantir a perpetuidade das novas práticas e cultura ESG almejada.
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